CINEMA
"Vingadores 2" ocupou 45% das salas no Ceará
30.04.2015
Circuito exibidor ultrapassou a cota prevista em acordo com a Ancine na semana de lançamento do filme
Ir ao cinema é a atividade cultural fora de casa favorita dos brasileiros, segundo pesquisa do Ministério da Cultura (MinC) publicada ano passado. Entretanto, quem frequenta as salas pode se deparar com um número limitado de filmes. Isso se deve à hegemonia de alguns poucos títulos que ocupam, totalmente ou parcialmente, as salas de exibição.
No Ceará, por exemplo, o filme "Os Vingadores: a Era de Ultron" foi projetado em 35 (45%) das atuais 77 salas de cinema apenas na semana de estreia, entre 23 e 29 de abril. Junto do blockbuster da Marvel, os títulos "Velozes e Furiosos 7", "Cinderela" e "Cada um na sua casa" foram responsáveis por 84% de toda a programação de cinema no Estado.
Ao todo, a continuação da saga dos "Vingadores" dominou 113 das 246 sessões diárias em diversos horários fixos (sem contar matinês, saideiras ou sessões especiais), ao longo do período de estreia em quase todas as salas do circuito comercial do Estado (o filme só não foi exibido no Cinema do Dragão-Fundação Joaquim Nabuco, em Fortaleza, e no Cine Francisco Lucena, em Limoeiro do Norte). Dessas sessões, 82 foram dubladas e 31 legendadas, em 2D (65 sessões) e 3D (48 sessões).
"Velozes e Furiosos 7", que conta com homenagem póstuma ao ator Paul Walker, abocanhou 21 salas com 57 projeções diárias (48 dubladas e 9 legendadas), mesmo um mês após sua estreia no Brasil. Já "Cinderela" foi exibido em 15 salas com 31 sessões (28 dubladas e 3 legendadas), ficando à frente da animação "Cada um na sua casa", com 13 salas e 28 sessões (todas dubladas).
Se quatro filmes conseguiram concentrar a maioria das salas e das sessões, o mesmo não se pode dizer do restante da programação, composta por 11 títulos (apenas um brasileiro) que se apertaram em 16% das sessões, com 42 projeções diárias.
Em sua segunda semana de exibição, apesar da redução no número de salas, "Os Vingadores" permanece como principal aposta das empresas exibidoras. Em Fortaleza, o blockbuster deve ocupar, entre os dias 30 de abril e 6 de maio, 29 salas com 80 sessões (57 dubladas e 23 legendadas).
Acordo
Para evitar o domínio de poucos títulos e aumentar a variedade dos filmes nos cinemas, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) e 30 empresas exibidoras e distribuidoras assinaram em dezembro do ano passado, um compromisso, válido a partir de 1º de janeiro deste ano, que limita a ocupação das salas por um mesmo título.
No Ceará, assinaram esse acordo as empresas Kinoplex, UCI, Arcoplex, Cineplex, Cinesercla e Cinépolis, responsáveis pela administração de cerca de 75% das salas de cinema e multiplex no Estado.
Apesar do acordo de cavalheiros entre Ancine e os administradores dos cinemas, o documento não prevê qualquer tipo de punição. Os complexos que ultrapassam os limites estão sujeitos apenas ao cumprimento de uma cota de tela suplementar - ou seja, deverão promover um número maior de exibições de longas-metragens brasileiros em suas salas durante o ano.
O não cumprimento dessa medida também não implica nenhuma punição. A cota de tela suplementar deve ser equivalente à soma dos excedentes diários em salas em relação ao limite fixado.
Assim, algumas empresas no Ceará descumpriram o que foi prometido e, ao longo desta semana, exibiram "Os Vingadores: a Era de Ultron" em mais salas do que o previsto.
O cinema do North Shopping, com seis salas administradas pela Kinoplex, contou com quatro delas totalmente dedicadas ao filme; segundo o acordo, o limite seria de duas. Já no Cinépolis North Shopping Jóquei, o filme foi exibido em três salas, quando o limite era duas. No cinema do RioMar, também administrado pela Cinépolis, o longa ficou em cartaz em seis das 10 salas do local, o dobro previsto pelo acordo com a Ancine.
Procurada pela reportagem, a Cinépolis afirmou que os diretores estão fora do País e que só podem enviar resposta na próxima semana. Já a Kinoplex não enviou posicionamento até o fechamento desta edição.
Fiscalização
A Ancine afirma que está fiscalizando o cumprimento do acordo. "O problema da superocupação dos cinemas pelo mesmo título fez parte de um diagnóstico compartilhado entre a Ancine e os agentes do setor", disse a agência em nota. O órgão reforça que a solução regulatória proposta e adotada pretende ser o menos intrusiva e a mais efetiva possível. "Trata-se de um modelo que não pune a inobservância dos limites".
Ainda segundo a Ancine, as empresas que extrapolaram os limites do acordo no Ceará serão notificadas.
Leonardo Bezerra
Repórter
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