Primeiro jogo financiado pela Lei Rouanet, gaúcho "Toren" será lançado em 12 de maio
Alessandro Martinello, um dos sócios da produtora Swordtales, acredita que o Estado possa virar um polo de games 04/05/2015 | 19h19
Quando, em 2013, a então
ministra da Cultura Marta Suplicy comentou que não considerava games uma forma
de cultura, fãs e produtores no Brasil se
revoltaram. Em Porto Alegre, na mesma época, a produtora Swordtales seguia
outro caminho e curiosamente conseguia financiamento por meio da Lei Rouanet para
tocar o projeto do game Toren.
Era a primeira vez que um jogo
eletrônico conseguia esse tipo de incentivo no país. Daqui a uma semana, Torenserá
lançado e pode marcar um novo passo da indústria
brasileira de games.
Fruto de quatro
anos de trabalho, Toren conta a história de uma menina que nasce trancada em
uma torre. Ainda bebê, ela descobre que tem de ir até o céu, ainda que o motivo
só seja esclarecido com o decorrer da trama. Enquanto a história avança, a
personagem principal cresce, até virar uma adulta. Baseado em Shadow of
the Colossus e Ico, o jogo de aventura discute
temas como religião, passagem do tempo e morte.
Antes da Lei Rouanet, Toren começou
a ser produzido pelos quatro sócios da Swordtales por conta própria. O diretor
de arte mato-grossense Alessandro Martinello, de 29 anos, conta que muito pouco
do que havia sido feito no início continuou no projeto após a injeção de R$ 370
mil que a aprovação na Rouanet proporcionou. Porém, ele não vê o ano e
meio de trabalho como tempo perdido:
– Sem o financiamento, não teria como ficar com a
qualidade que ficou, não só na questão gráfica. Porque, para ficar realmente
bom, precisa de tempo. E tempo, nesse caso, é dinheiro. Mas nesse tempo a gente
acabou aprendendo o ofício – avalia.
Assim como o trabalho da Swordtales, a indústria dos
games como um todo engatinha no Brasil. Por isso, o pioneirismo de Toren pode
significar um passo em direção à maior facilidade de financiamento, maior
resposta de empresas a chamados de financiamento por renúncia
fiscal (como é o caso da Rouanet) e até mesmo uma percepção mais clara de
que as produtoras brasileiras podem, sim, investir em entretenimento. Uma pedra
num muro em construção, segundo as palavras de Alexandre Machado de Sá,
presidente da Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos Digitais
(Abragames):
– O mais importante é mostrar que existe esse
caminho. Jogo pode usar a Lei Rouanet. Só que os produtores acabam não usando
por desconhecimento. E o segundo ponto é mostrar que um empresário aceitou
fazer renúncia fiscal para um jogo, e não para um show, que já é hábito.
Precisamos ter uma discussão ampla sobre isso, para que Toren não seja um caso
isolado. Essa é uma das maiores pedras deste muro que a gente está
construindo.
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